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Trecho do Livro Fostarlkien que estou escrevendo



Ilustração: Joe Madureira

Capitulo 2


Breno agora está numa festa em algum lugar do Brasil. Bebe moderadamente em pé cercado pelo seu grupo de amigos de longas datas e veio com o intuito de procurar uma paquera, pois tem se sentido muito solitário ultimamente e já foi em várias festas sem sucesso. Ele é um cara pobre e isso dificulta muito o acesso a garotas no Brasil. Gastara praticamente todo seu dinheiro para o ingresso da festa e para a vestimenta que agora estava, por mais que essa festa pudesse vir fantasiado, ele preferiu usar um esporte fino de marca famosa, para tentar trazer status. Se não desse certo dessa vez, sabe-se lá quando teria dinheiro para outra oportunidade. Hoje era all-in.

E olha que ele é um cara atlético, bonito e simpático. Principalmente quando sorria. Algo que fazia com muita naturalidade e espontaneidade como todo brasileiro. Olhava sempre no olho e tinha um olhar fulminante. Olhar esse que cruza, com uma das meninas mais lindas da cidade. Basta dizer que foi a segunda colocada no Concurso de Garota da Cidade, o que lhe proporcionava o título de Princesa, o que - criativamente - estava fantasiada. E lhe caia esplendorosamente bem. Ela até que disfarça, mas depois retribui com um sorriso. Breno não acredita. E passa aquele velho tempo entre conversas, disfarces e trocas de olhares.  Nessa hora as pessoas que dançavam entre eles se afastam o que deixa o caminho livre. Os amigos reparam e começam a pirraçar. Não é possível. Nisso ele levanta o copo em direção a ela, que sorri. Pronto. Era a deixa.


Breno então se esgueira como um tigre em direção a sua presa na penumbra, com o olhar fixo em direção ao alvo que o aguarda. Então se entreolham e eles se apresentam e começam as frivolidades entre sorrisos e olhares. Nisso passam lindos momentos de ternura.

E Breno, se achando o cara mais sortudo do mundo. Ele não sabe, mas está apenas de gaiato num jogo de interesses. A Princesa está na verdade usando ele para fazer um joguinho de ciúmes com um affaire, que não mais demonstrava interesse por ela. Pelo menos até agora. Um playboyzinho, um dos mais ricos, atléticos e populares daquela cercania que sabia do interesse da Princesa, mas até então a tratava como reserva do seu harém, caiu como um pato. Ao vê-la paquerar com um desconhecido boa pinta, se sentiu com ciúmes e ameaçado e foi tirar satisfação:

- Hei man, essa menina é minha namorada...

A Princesa então sorria por dentro. Seu joguinho funcionou.

- Desculpe, não sabia que ela estava acompanhada. É que não vi ninguém por perto e ...

- Nisso a princesa interrompe fazendo-se de surpresa: Não sabia que estávamos namorando... depois daquele dia você não me procurou mais. Diz ela toda cínica que-rendo mais do que tudo.

- Mas agora eu quero. Vaza carinha você está sobrando aqui – diz o playboy – já com cara fechada e em tom ameaçador.

- Por que não deixamos ela decidir? – Diz Breno.

Ele olha para a Princesa. Linda como ela só. Que simplesmente coloca o indicador na boca.

Breno, encantado com tudo aquilo acha nela um belo motivo para lutar, até quem sabe morrer. Faz aquela cara de bobo. Já estava completamente apaixonado o inocente.

E ela faz todo aquele charme. Gosta do playboyzinho, mas agora faz aquela cara de dúvida. Queria mais era saber se ele gostava dela. E se até brigaria por ela. Uma prova de amor. Estava formado o jogo que ela que-ria assistir. Ela estava sentindo prazer com tudo aquilo.

Diante da duvida da Princesa, o playboy com seu corpo avantajado, cresce mais e, temendo a resposta de-la, parte para cima do Breno com um empurrão tentando intimida-lo. - Já mandei sair. Vaza! - Diz ele agora apaixonado.

Com isso é formado aquele círculo de briga no meio da festa. Antes que Breno se recuperasse do empurrão e da descarga de adrenalina, é atingido com um mais um soco do ágil playboy. Os ânimos ficam exaltados. Breno fica atordoado. E leva instintivamente a mão direi-ta ao local da pancada e vê seu sangue entre seus dedos que escorria da boca. Contempla tudo aquilo e diz:

- Acho que temos um impasse aqui, Thor – em uma alusão a tosca fantasia do brutamontes que o agredira.



Nisso os amigos do Thor o cercam. Todos fantasiados. Breno olha para o lado e está só. Seus amigos vazaram. A plateia observava o mirrado Breno contra, praticamente, o time todo dos Vingadores.

Breno observa aquela cena. A plateia começa a animar e pedir briga com os olhos. Breno se levanta em câmera lenta e olha para baixo, e se dá conta do cenário ao qual está envolvido. Decide sair daquela situação humilhante como um cachorro com medo, pois não quer confusão, vira as costas para o Thor como quem está de saída e com isso dá de cara com o troféu: A Princesa. Algo que vale a pena lutar.

Muda de ideia, vira novamente para os caras e diz:

- Vão embora. Não quero machuca-los.

O espanto é geral. Uns cinco já partem logo para cima dele. Todos de vez numa briga desengonçada. Breno se esquiva de praticamente todos os ataques. O que levanta a plateia que começa a achar que não estão à frente de um amador. E começam as apostas. Breno graciosamente luta contra os caras que começam a ficar ainda mais nervosos.

A Princesa apenas acha graça de tudo aquilo. Cínica que só ela.

Nisso chegam mais caras. Breno já não consegue dar conta e uns golpes começam a transpassar suas defesas e o atingir. A covardia era latente. A bagunça era geral.

A plateia regozija pelo seu dissabor por acharem que Breno era o errado por mexer com mulher dos outros, que era o que parecia numa análise fria dos fatos.

Duas pessoas diferem das demais. Elas vestem ternos pretos e estão fantasiadas com duas grandes máscaras: uma em formato de cabeça de cavalo o outro de cervo com grandes chifres. Ao verem aquela confusão se formando são os únicos a saírem do recinto.

A confusão aumenta e toma maiores proporções. Cada vez mais acuado, Breno recebe cada vez mais golpes e começa a se cansar. Sua insistência em apanhar e permanecer de pé começa a intrigar os presentes. Até que o Mjölnir, parte integrante da fantasia de Thor é jogado em sua direção, o acerta em cheio e o faz rodopiar e cair ao chão. Era um grande martelo de madeira. Como permitiram alguém entrar com aquilo?

Muitos acharam que já havia acabado. Breno apanhara muito. Agora foi acertado em cheio. Alguns últimos ainda o chutam. Mas o coletivo geral é que ele estava acabado. A briga já tem um vencedor.

A Princesa estava feliz. A plateia vibra.

Antes dos seguranças chegarem para tirar o cor-po de Breno e colocá-lo fora da boate, após muitos já terem dado de costas, Breno levanta-se para o espanto de todos os presentes. Estava sangrando. Exausto. Mas de pé.

Enquanto se recuperava, foi atingido seriamente mais uma vez pelo playboy. Um gancho de esquerda, uma direita e ele cai e é arremessado para longe. Bate na parede e desaba. O bruto espera, mas ao vê-lo totalmen-te sem reação sai pois sabia que logo os seguranças che-gariam.

Um Breno cambaleante mais uma vez se reergue. Todo machucado. Sangrando.

Ele fora violentamente agredido e totalmente fe-rido em sua dignidade e honra. Mas agora decide entrar de vez naquela dança. Ofegante, leva as costas da mão a boca ensanguentada, mais sério do que nunca diz ao playboy pausadamente e com grande presença de espi-rito:

- Não o achava DIGNO de erguer aquele Martelo. Você mexeu com o cara errado.

No que o Thor responde:

- É o que? Vai me dizer que vai se transformar no Hulk agora...

Breno, levando o indicador em riste à boca, responde imediatamente e bem devagar:

- Faça silencio e. Contemple. Este. Momento.



O público presente agora atônito observa um Breno de olhos fechados gritar com toda sua força ao tempo que cerra seus punhos na altura de sua face. Um vento insólito sopra no local e chega a derrubar alguns. Ao abrir seus olhos todos observam um brilho incomum nos olhos de Breno que, antes castanhos, agora estão brancos e brilhantes tais como faróis Xênon. Muitos se assustam. Mas antes que esbocem alguma reação, num gesto de Breno, como se fizesse uma coreografia, abrin-do os braços um para cada lado, um corredor é formado instantaneamente com o público sendo jogado violenta-mente para os lados opostos, deixando aberto um cami-nho que levava diretamente para o Thor Playboy, que agora rastejava de costas assustado como uma criança. A face de Breno resplandecia. Num gesto ele levanta sua mão direita com a palma aberta para cima, vagarosa-mente, até a altura de seu pescoço o que é seguido por uma levitação sobrenatural do Thor, que para espanto geral, agir como uma marionete assim que Breno, num gesto sincronizado, ao virar a palma da mão para baixo, cerra-la e projeta-la para a frente, faz o Thor sair voando e ser arremessado violentamente contra a parede.

Alguns fogem, mas outros principalmente os amigos do playboy reagem. A histeria é geral. A banda para de tocar e a festa acaba em cadeiras, mesas e bebidas voando para todos os lados. Breno então está imbatível. Derruba os oponentes um após outro e não é mais atingido por nenhum golpe. E decide deixar o local depois da confusão instaurada e após perceber que tinha se transformado na caça, mas antes...

Sorrindo, e em câmera lenta, ele puxa delicada-mente a Princesa praticamente para o meio do baile e faz abrir um círculo de pessoas e coisas ao redor dos dois ao girar seus corpos com estilo, expulsando tudo próximo a eles utilizando mais uma vez seu poder. Aparentam estar num olho de um furacão, onde tudo é calmaria em meio ao caos, e ao vira-la, como um gentleman, dá um belo beijo de cinema em sua boca fazendo o tempo parar neste momento.


Após uns segundos de ternura e antes de ser pego por muitos que vinham em sua direção, Breno despede-se da Princesa e mais uma vez abre caminho projetando as pessoas e coisas a sua frente e abre outro cor-redor até a saída, onde ele corre e começa a ser perseguido inclusive pelos seguranças do local, até então ausentes.

Tiros são ouvidos e Breno sai correndo. Ele pula e flutua no ar. Pula e anda pelas paredes, pessoas, mesas e cadeiras até ganhar a avenida e após correr sendo seguido de perto por uma multidão, é cercado por uma caminhonete que, ao girar 180 graus bem em sua frente, abre o vidro onde estão os dois homens que foram vistos saindo da boate com máscaras de cavalo e cervo que colocam as cabeças para fora e gritam:

- Não temos tempo para explicações. Entre no carro.



Breno, sem muitas alternativas, salta na caçamba da caminhonete que segue em alta velocidade.

Os ali presentes ao ver aquilo, param de persegui-lo.



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